quinta-feira, 13 de novembro de 2014

Culto Racional - Parte 02 :: Mantras ::

Já tive a oportunidade de frequentar vários "Congressos de Avivamento" e em todos, pude perceber que grande parte do tempo era dedicado ao louvor. Sempre gostei de música e confesso que por muito tempo fui atraído pelo ritmo contagiante e não pelo conteúdo. Hoje me vejo mais crítico e com uma percepção bem mais aguçada para esse tipo de armadilha. As vezes me pegava de olhos fechados, banhado em lágrimas repetindo incansavelmente um mesmo verso musical sem ao menos meditar no que estava dizendo enquanto as luzes eram apagadas e os músicos contribuíam para criar uma atmosfera acolhedora e envolvente com os seus recursos e instrumentos.

Um dia comecei a observar que, durante o período de louvor, as pessoas se manifestavam diferente em relação às músicas. As canções que não se resumiam a trechos e repetições eram entoadas, digamos que, normalmente. Mas quando o dirigente começava a insistir exaustivamente para que a igreja cantasse inúmeras vezes um mesmo verso, a grande maioria começava a entrar num estado de êxtase. O choro era derramado em questão de minutos, pessoas se ajoelhavam, outras gritavam e começavam a agir como se estivessem fora de controle. Um tanto estranho, não acha? Muitos podem até achar também, mas é bem mais cômodo atribuir isso à ação do Espírito Santo e não questionar nada. Em I João 4:1 somos conselhados a não crer em tudo o que nos é proposto: "Amados, não creiais a todo o espírito, mas provai se os espíritos são de Deus, porque já muitos falsos profetas se têm levantado no mundo." Paulo também nos adverte quanto a isso: "Examinai tudo. Retende o bem."  I Tessalonicenses 5:21 

Essas repetições são chamadas de mantras. Os mantras são orações em forma de melodia que, segundo os hinduístas, possuem uma energia sonora que movimenta outras energias que envolvem quem os entoa. "Nossa mente é muito 'dura'. Por isso ela precisa ser massageada com os mantras, para dissolver a sua rigidez e os seus bloqueios. Tudo o que precisamos fazer é relaxar o máximo possível enquanto repetimos ritmicamente as sílabas do mantra, em voz alta ou silenciosamente." Bel Cesar. Outro autor norte-americano afirma que "esta sinergia é estratégica para a obtenção da persuasão plena, sendo assim um forte reforço para a convicção do adepto (...) Esta técnica repetitiva deve ter sua origem na descoberta do mecanismo da mente de aceitar como verdade uma frase repetida ou ouvida muitas vezes." Robert Yelle.

Os budistas, como afirma o autor, acreditam que repetir várias vezes uma mesma frase, condiciona a mente a aceitar como verdade o que é dito atraindo o que se deseja. Interessante notar que Jesus se refere a esse tipo de prática quando diz: "E. orando, não useis de vãs repetições, como os gentios, que pensam que por muito falarem serão ouvidos." Mateus 6:7

Você já brincou de ficar repetindo uma mesma palavra várias vezes? Faça isso e aos poucos vai ver que ela vai perdendo o sentido. Segundo a neurologista Denise Menezes, o cérebro passa a barrar os estímulos, impedindo que cheguem ao córtex, região que processa atenção, consciência, percepção e pensamento. "Nós produzimos o som, mas já não processamos a informação". Já para o psicólogo e professor da USP, Antonio Carlos, "quando uma palavra é repetida de forma monótona, o nosso foco de atenção muda, ficamos distraídos por causa da repetição e não processamos a informação como deveríamos". Por último, profissionais de linguística afirmam que "a repetição faz com que a pessoa se afaste do significado da palavra (o conceito) para se aproximar de seu significante (a sonoridade). Deixamos de nos relacionar com o que a palavra significa para nós e passamos a prestar atenção apenas no som."

O nosso culto deve ser prestado de forma racional, como alerta Paulo: "Que farei, pois? Orarei com o espírito, mas também orarei com o entendimento; cantarei com o espírito, mas também cantarei com o entendimento." I Coríntios 14:15. O salmista ainda reforça: "Pois Deus é o Rei de toda a terra, cantai louvores com inteligência" Salmos 47:7. Enquanto os nossos olhos físicos permanecem fechados em louvor, os nossos olhos espirituais devem permanecer abertos e atentos ao que a nossa boca declara para que não sejam apenas palavras lançadas ao vento.

Nenhum comentário:

Postar um comentário